segunda-feira, 1 de setembro de 2008




De tudo que é nego torto


Do mangue e do cais do porto


Ela já foi namorada


O seu corpo é dos errantes


Dos cegos, dos retirantes


É de quem não tem mais nada


Dá-se assim desde menina


Na garagem, na cantina


Atrás do tanque, no mato


É a rainha dos detentos


Das loucas, dos lazarentos


Dos moleques do internato


E também vai amiúde


Com os velhinhos sem saúde


E as viúvas sem porvir


Ela é um poço de bondade


E é por isso que a cidade


Vive sempre a repetir


Joga pedra na Geni


Joga pedra na Geni


Ela é feita pra apanhar


Ela é boa de cuspir


Ela dá pra qualquer um


Maldita Geni


Um dia surgiu, brilhante


Entre as nuvens, flutuante


Um enorme zepelim


Pairou sobre os edifícios


Abriu dois mil orifícios


Com dois mil canhões assim


A cidade apavoradaS


e quedou paralisada


Pronta pra virar geléia


Mas do zepelim gigante


Desceu o seu comandante


Dizendo - Mudei de idéia- Quando vi nesta cidade- Tanto horror e iniqüidade-


Resolvi tudo explodir- Mas posso evitar o drama- Se aquela formosa dama-


Esta noite me servir


Essa dama era Geni


Mas não pode ser Geni


Ela é feita pra apanhar


Ela é boa de cuspir


Ela dá pra qualquer um


Maldita Geni


Mas de fato, logo ela


Tão coitada e tão singela


Cativara o forasteiro


O guerreiro tão vistoso


Tão temido e poderoso


Era dela, prisioneiro


Acontece que a donzela- e isso era segredo dela


Também tinha seus caprichos


E a deitar com homem tão nobre


Tão cheirando a brilho e a cobre


Preferia amar com os bichos


Ao ouvir tal heresia


A cidade em romaria


Foi beijar a sua mão


O prefeito de joelhos


O bispo de olhos vermelhos


E o banqueiro com um milhão


Vai com ele, vai Geni


Vai com ele, vai Geni


Você pode nos salvar


Você vai nos redimir


Você dá pra qualquer um


Bendita Geni


Foram tantos os pedidos


Tão sinceros, tão sentidos


Que ela dominou seu asco


Nessa noite lancinante


Entregou-se a tal amante


Como quem dá-se ao carrasco


Ele fez tanta sujeira


Lambuzou-se a noite inteira


Até ficar saciado


E nem bem amanhecia


Partiu numa nuvem fria


Com seu zepelim prateado


Num suspiro aliviado


Ela se virou de lado


E tentou até sorrir


Mas logo raiou o dia


E a cidade em cantoria


Não deixou ela dormir


Joga pedra na Geni


Joga bosta na Geni


Ela é feita pra apanhar


Ela é boa de cuspir


Ela dá pra qualquer um


Maldita Geni














É, maldita da Geni mesmo...