sexta-feira, 1 de agosto de 2008



Construção
Chico Buarque
Amou daquela vez Como se fosse a última
Beijou sua mulher Como se fosse a última
E cada filho seu Como se fosse o único
E atravessou a rua Com seu passo tímido
Subiu a construção Como se fosse máquina
Ergueu no patamar Quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo Num desenho mágico
Seus olhos embotados De cimento e lágrima
Sentou prá descansar Como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz Como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou Como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou Como se ouvisse música
E tropeçou no céu Como se fosse um bêbado
E flutuou no ar Como se fosse um pássaro
E se acabou no chão Feito um pacote flácido
Agonizou no meio Do passeio público
Morreu na contramão Atrapalhando o tráfego...
Amou daquela vez Como se fosse o último
Beijou sua mulher Como se fosse a única
E cada filho seu Como se fosse o pródigo
E atravessou a rua Com seu passo bêbado
Subiu a construção Como se fosse sólido
Ergueu no patamar Quatro paredes mágicasTijolo com tijolo Num desenho lógico
Seus olhos embotados De cimento e tráfego
Sentou prá descansar Como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz Como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou Como se fosse máquina
Dançou e gargalhou Como se fosse o próximo
E tropeçou no céu Como se ouvisse música
E flutuou no ar Como se fosse sábado
E se acabou no chão Feito um pacote tímido
Agonizou no meio Do passeio náufrago
Morreu na contramão Atrapalhando o público...

Voltando, com o desafio de agora escrever, viajar, compartilhar!